Oito meses atrás, Miuccia Prada levantava a bandeira de um resgate à simplicidade com seu desfile de verão 2020, na contramão do cenário de excessos pelo qual passávamos – de ostentação, de exposição, de conectividade.

Nunca imaginaria ela que, quando a coleção chegasse às lojas, estaríamos mais conectados do que nunca (com o celular e outras telas sendo nossa única ferramenta de interação como mundo exterior), mas, por outro lado, vivendo realmente, ainda que à força, uma vida mais simples.

Muitos dos momentos mais difíceis da humanidade podem ter sido sucedidos por extravagâncias e grandes movimentos criativos (caso dos Années Folles pós-Primeira Guerra Mundial e da criação do New Look após a Segunda Guerra Mundial). Mas, ao longo dos últimos anos, a moda conquistou uma celebração à individualidade, em que não se segue mais rigorosamente um único caminho ou tendência.

E, em paralelo a essa futura possível exuberância, outro importante rumo que promete despontar pós-pandemia é um resgate a um luxo discreto que conversa com a simplicidade proposta por Miuccia, valorizando os chamados “essenciais”: peças atemporais e de qualidade impecável para comprar agora e usar para sempre.

Assim como, depois da crise financeira de 2008, vimos a elegância despretensiosa da Celine, de Phoebe Philo, substituir o sexy extravagante do início do milênio, mais tempos de incerteza geram novamente consumidores mais atentos sobre onde gastar seu dinheiro – consciência que hoje passa não apenas pela qualidade e utilidade do produto, mas também pela forma como ele impacta o meio ambiente e a comunidade.

O que não quer dizer que esta busca por itens essenciais, cujo luxo pode ser visto na maneira como a peça é feita e não em um logo, se traduza em roupas “basiquinhas” e sem graça. A exemplo do que Daniel Lee vem propondo na Bottega Veneta, essa simplicidade e esse minimalismo visual “escondem” ricas texturas, silhuetas descompromissadamente cool e caimentos propositalmente confortáveis.

Afinal, faça você o tipo que se veste em estilo Zoom (“arrumado” apenas da cintura para cima) ou o que se produz de pijama mesmo, as semanas de home office afetaram drasticamente nosso guarda-roupa de trabalho e vai ser difícil se desapegar dessa sensação de conforto quando nossas vidas voltarem ao curso normal. Ainda que esse “normal” definitivamente não seja mais o mesmo.

Fonte: Vogue